Numa velocidade cada vez mais espantosa, a sociedade incorpora, sem muita oposição, pornografia implícita e explícita. Hoje, seja nos sites, nas propagandas ou nas telenovelas, a pornografia escrachada ou disfarçada perambula livremente e influencia radicalmente os pensamentos e preferências pessoais, norteia padrões de beleza e de moda, além de deformar a sexualidade dos mais diversos públicos. Toda uma geração está corrompida!
Engana-se quem pensa que os cristãos estãos livres das ressonâncias da cultura pornificada. Dentro das igrejas, infelizmente, muitos são escravos da pornografia. O problema é que a maioria sequer reconhece que isto é um problema, e que pode ser vencido. Mas como vencer a pornografia?
Embora muitas dicas que são apresentadas, como “não faça isso” ou “evite aquilo” sejam importantes no seu devido lugar, elas não tem o poder de libertar definitivamente da pornografia. É necessário, antes de adotar qualquer medida pessoal de combate a uma vida pornificada, fazemo-nos uma pergunta: qual o propósito de Deus para o sexo?
O sexo promove intimidade total
A pornografia transforma o sexo em um prazer curto, egoísta e individual. Aos olhos de Deus, porém, a sexualidade foi feita para unir marido e esposa. Adão ficou um tempo sozinho no Jardim do Éden.
Embora tivesse como companhia animais de diversas espécies e o próprio Deus, ele sentia que faltava algo. Ao observar as espécies, cada uma com seu par, ele percebeu que também precisava de uma companheira. Foi Deus quem fez Adão perceber essa necessidade. O relacionamento horizontal com seu semelhante, assim como o relacionamento vertical com Deus, também tem sua importância. E foi Deus quem colocou esse desejo no coração de Adão e orientou como deveria ser a relação entre homem e mulher.
O desejo pelo sexo oposto, portanto, quando não fere princípios bíblicos, é legítimo e não deve ser encarado como uma aberração. O problema é que o usuário regular de pornografia vai captar todo e qualquer estímulo sexual – que são naturais – a partir de uma visão pornificada – e isso não é natural.
O sexo reflete a imagem de Deus
O sexo entre marido e esposa reflete aspectos profundos da Trindade, por meio da unidade na diversidade de dois seres e o amor mútuo e incondicional. Enquanto Deus orienta que o sexo deve unir, a pornografia conduz à uma solidão masturbatória.
A masturbação é um ato egoísta na desenfreada busca por autossatisfação. Assim, o homem rejeita o plano de Deus da união por meio do sexo no casamento para chafurdar-se no lodaçal da pornografia, que promove tanto atos isolados de masturbação quanto atos abomináveis de abuso sexual.
Se o sexo não tem como objetivo expressar intenso companheirismo e intimidade, não faz parte do plano de Deus. Davi Merkh Junior, em seu livro “O Namoro e o Noivado Que Deus Sempre Quis”, atenta para o fato de que o sexo também pode refletir a vida de Cristo, que não veio para ser servido, mas para ser servir (Marcos 10.45). E que essa vida é manifestada quando o sexo é visto como uma ferramenta para dar prazer e satisfação ao outro (1 Corintios 7.3-4).
O sexo existe para procriação de novas imagens de Deus e do casal
O objetivo da pornografia é a masturbação. Já o objetivo do sexo, dentre outras coisas, é a procriação de novas imagens de Deus e do casal. Equivocadamente, muitos reduzem o propósito do sexo apenas a reprodução da espécie.
É verdade que isso também faz parte dos planos de Deus, mas o objetivo de Deus não era meramente povoar o mundo, mas reproduzir, por meio do amor de Adão e Eva, outros espelhos da sua imagem e semelhança.
Depois da Queda, a imagem de Deus carregada pelo homem ficou deformada. Por isso, a experiência sexual nos moldes bíblicos deve contrastar com a imitação pobre da glória de Deus oferecida pelo mundo e ultrapassá-la, para honrar a Imago Dei.
Para vencer a pornografia, não fuja da sexualidade.
A pornografia, com todo seu espúrio arsenal, desvirtua o propósito de Deus para o sexo. E até mesmo um cristão que não tem problemas com pornografia pode ter um entendimento equivocado sobre a sexualidade. Por isso, existe o risco de fugirmos da sexualidade em vez de encará-la.
Não fugir da sexualidade significa compreender a vontade de Deus sobre o sexo e entender que Deus quer que o homem desfrute desse prazer dentro dos limites estabelecidos na Escrituras. Porém, encarar a sexualidade não significa conceber todos os seus desejos sexuais. Embora o homem seja um ser sexual, sujeito a inúmeros impulsos, não deve se render a todos eles. Martinho Lutero disse: “você não pode evitar que pássaros sobrevoem sua cabeça, mas pode evitar que construam ninhos em seu cabelo”.
Encarar a sexualidade também não significa que o sexo deve ocupar o principal lugar na vida cristã nem que deve ser demonizado. O sexo foi criado por Deus (“por eles todas as coisas foram criadas” – Colossenses 1:16); o sexo é bom (“tudo que Deus criou é bom” – 1 Timóteo 4:4); o sexo continua a existir pela vontade de Cristo (“todas as coisas subsistem por Ele” – Colossenses 1.17); o sexo deve ser feito para a glória de Deus, assim como todas as outras coisas (“quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” – 1 Coríntios 10.31).
Entendendo o propósito de Deus para o sexo, podemos glorificá-Lo quando fazemos sexo dentro do casamento monogâmico e heterossexual, em santidade e honra, compreendendo que o ato sexual é o resultado ou a expressão da união (Mateus 19.4-5), e não podemos ser escravos dele (“todas as coisas me são lícitas, mas não vou deixar me dominar por nenhuma delas” – 1 Coríntios 6.12).
A solução para vencer a pornografia, portanto, não é unicamente adotar um rígido sistema de legalismos pessoais, como não acessar internet, não assistir filmes, não ficar sozinho em casa etc. Algumas coisas podem até ter aparência de sabedoria, “mas não podem refrear os impulsos da carne” (Colossenses 2:23). Essas regras, embora tenham seu lugar de importância, lidam apenas externamente com o problema. As imagens pornográficas, contudo, ficam gravadas na memória do cérebro até o fim da vida.
O verdadeiro problema, então, é interior, por causa da inclinação natural da carne para o pecado. É necessário renovar a mente (Romanos 12.2). Por isso, vencer a pornografia não significa fugir da sexualidade, mas encará-la a partir uma perspectiva bíblica, orando e vigiando a todo tempo.
por Paulo Marinho Jr./ José Peruzzo Jr.
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